Era apenas mais um dia de trabalho na sociedade espírita que trabalho. A noite estava quente, o céu nublado, relâmpagos cortavam o céu de tempos em tempos.
Estava sentada conversando com uma amiga, quando entrou um senhor, aparentando seus cinqüenta e tantos anos, muito magro e alto, o rosto vincado por rugas de preocupação. Ele olhou para nós e perguntou;
- É aqui que trabalha uma médium vidente chamada Eliane?
Logo fiquei com o pé atrás, já vivi situações semelhantes, quando pessoas leigas no assunto da mediunidade, chegam a casa esperando que eu seja a mais eficiente fofoqueira do plano espiritual, afinal se sou vidente, devo saber tudo que acontece em suas vidas, e por raciocínio dedutivo, também devo enxergar as soluções para os problemas alheios. Voltando a nossa história:
- Eu sou Eliane. E o senhor?
- Eu sou o João (nome fictício).
- O que podemos fazer pelo senhor?
- Gostaria muito de ter uma conversa em particular com a senhora.
- Está bem, vamos à sala de atendimento fraterno, mas não estaremos sozinhos, teremos a companhia de minha amiga Zuleica, que nos auxiliará com bons pensamentos e vibrações.
- Está bem.
Entramos na sala de atendimento fraterno, ele sentou em uma cadeira no canto da sala, e passou a observar o ambiente, depois olhando para mim, disse:
- Uma amiga me aconselhou a vir aqui. Estou muito mal, não consigo dormir, comer, ou me relacionar com as pessoas.
- A que o senhor atribui esse fato?
- A meu obsessor. – respondeu olhando para trás e a esquerda.
- O seu obsessor? – questionei.
- Eu sei que a senhora pode vê-lo, a senhora é médium vidente, não é?
- Sou, mas por que acredita que ele é responsável pelo seu desconforto?
- Eu sei da presença dele desde a juventude. Aos dezesseis anos estava muito confuso, não sabia o que queria da vida e fazia parte de uma turma muito barulhenta, minha mãe preocupada me levou a uma senhora espírita, que nos informou da presença dele.
- Ela falou assim, simplesmente, que o senhor tinha um obsessor e ele era responsável por seu comportamento?
- Afirmou, sem sombras de dúvidas, e disse mais, que ele comandaria minha vida, que eu não teria amigos, não conseguiria ter um relacionamento amoroso estável e seria sempre assim, atormentado. Ela sabia do que falava, aconteceu exatamente dessa maneira. Só que estou em um ponto de exaustão, que já penso até em me matar.
- O senhor entende como acontece um processo obsessivo?
- Eu sou expert nisso, afinal estou à mercê de um obsessor a vida toda.
- O senhor procurou entender sobre o assunto, estudar a Doutrina dos Espíritos, ou procurar informações que o esclareçam sobre esse doloroso processo?
- Freqüentar um centro?
- Ou apenas ler, ou conversar com alguém que entenda um pouquinho disso?
- Não, eu me recuso a isso, para que saber mais, se sei da força de meu obsessor? Só estou aqui porque me disseram que a senhora tira os obsessores das pessoas.
- Certo, mas pense bem: o que conhecemos... entedemos e por conseguinte dominamos. O senhor me parece uma pessoa que tem algum estudo.
- Sou professor doutor em uma universidade.
- Para chegar ao ponto de conhecimento e domínio na matéria que ensina, precisou do que?
- Esforço e estudo.
- Sem conhecimento, não haveria como dominar o assunto?
- Isso mesmo. Se por ventura um dia o senhor ficar diabético, como fará para lidar com essa doença?
- Informando sobre o assunto.
- E por que no caso da obsessão é diferente.
Ele parou para pensar e perguntou?
- O que me aconselha?
- Estudo e depois de algum tempo nós voltamos a conversar.
- Mas... a senhora não resolveu meu problema.
- O senhor veio aqui a pedido de uma amiga em que confia?
- Foi.
- E ela confia em mim?
- Confia.
- Então... peço que também confie, haverá uma série de estudos no grupo da terça-feira, e o assunto será a obsessão e auto obsessão.
Ele aceitou minha sugestão. Depois de cinco semanas, ele voltou a me procurar, e novamente, na sala de atendimento.
- Fiz o que a senhora pediu, assisti a todas as cinco aulas, e a semana passada informou que o assunto seria outro. Agora você pode me ajudar a resolver meu problema?
- Muito bem, você já mudou a maneira de falar.
- Por que?
- Antes você queria que eu resolvesse seu problema, hoje você me pediu para ajudar a resolver.
- É verdade, eu entendi que eu também preciso fazer alguma coisa. Primeiro uma curiosidade, a senhora é médium vidente, então com certeza, vê meu obsessor. Como ele é?
- Alto, magro, tem sempre uma expressão muito séria, os olhos são tristes como se esperasse sempre algo ruim na vida. Veste-se com sombriedade, calça escura, camisa branca abotoada sempre até o último botão.
- Nossa! Ele é muito parecido comigo. Isso aconteceu pelo processo de simbióse que a senhora falou?
Eu fiquei olhando para ele e disse:
- Se for isso, você é o obsessor, afinal ele se transformou em você?
Ele ficou me olhando com espanto e disse:
- Processo de auto obsessão? Eu acreditei tanto no que me disseram na juventude e acabei por travar as minhas experiências pessoais?
Depois desse dia, ele continuou a freqüentar a casa por mais um tempo, então deixou de ir.
Um dia fazendo compras em um supermercado, escutei alguém me chamando, olhei e demorei a reconhecer. Era um senhor bastante jovial, alto, não tão magro, olhos espertos e sorridentes, vestindo jeans, camiseta e tênis; ao seu lado uma senhora de aparência delicada e feliz, ele estendeu a mão para mim, e disse animado:
- Desculpe não ter ido mais ao centro, mas tenho tantos compromissos que não está dando. Essa é minha namorada e combinamos de passar por lá e pedir para participar dos estudos.
Olhei para ele e disse feliz:
- Você está muito bonito, sabia?
- Eu sempre digo isso a ele. – Reforçou a namorada.
- E graças a Deus, eu entendi que sou mesmo. – Respondeu com uma gargalhada contagiante.
Oi, ELi. Gostei muito desse texto, estou fazendo um atendimento com uma pessoa que passa por situações semelhantes, vou seguir seu raciocinio, depois conto o resultado. Bjs e saudades. Ana
ResponderExcluirMUITO LEGAL,ADOREI ESSA MENSAGEM,ELA SE INDENTIFICA -SE COMIGO.
ResponderExcluirOlá, anonimo!
ResponderExcluirA auto obsessão acaba por nos privar de excelentes momentos, experiencias, em nossas vidas; nossa visão é obscurecida por nossa dor, incapacidade de um raciocinio claro sobre os conflitos que vivenciamos diuturnamente. O esforço pessoal em busca do equilibrio que nos remete a panoramas mais saudáveis e otimistas, traz consigo a crença em nossa capacidade de aprender, transformar e realizar é o caminho seguro para uma vida feliz. Se não consegue fazer esse exercício sozinho(a) procure ajuda com terapias psicológicas, espirituais, etc.,com certeza voce merece essa oportunidade. Deus o(a) abençoe.
Um abraço carregadinho de bons fluídos
Eliane Macarini